Esquema de propina nos transportes do RJ tinha custo mensal de R$ 1,2 milhão, diz MPF

04/07/2017 - RJ TV

Verba era usada para pagar seguranças, funcionários e taxas em geral. Segundo investigação da Operação Ponto Final, em 6 anos, Sérgio Cabral recebeu quase R$ 56 mil por dia.

Esquema milionário de propina nos transportes custava R$ 1,2 milhão por mês

Um milhão e duzentos mil reais por mês. Esse era o custo mensal do esquema milionário de pagamento de propina instalado no setor de transportes do Rio. Na segunda-feira (3), toda a cúpula foi presa numa operação conjunta do Ministério Público Federal e da Polícia Federal. Empresários são acusados de desviar até R$ 500 milhões sob o comando do ex-governador Sérgio Cabral.

A Operação Lava Jato interrompeu um esquema de corrupção antigo: foram 26 anos de propinas. É o que conta o colaborador Edimar Moreira Dantas no inquérito da Operação Ponto Final, deflagrada na segunda pelo MPF no Rio

Edimar Dantas era funcionário da empresa Hoya, a corretora de valores e câmbio do doleiro e delator Álvaro José Novis. Era ela quem controlava as planilhas e os pagamentos do caixa dois da Fetranspor. Dantas revelou que a federação, a mando de Lavouras, passou a utilizar os serviços dele para guardar dinheiro e fazer pagamentos de vantagens indevidas a políticos.

Dantas contou que, entre 1990 e 2016, as ordens para os pagamentos eram dadas unicamente por José Carlos Lavouras, presidente do conselho da Fetranspor, sempre em bilhetes.

Os procuradores descobriram que Lavouras foi um dos que mais receberam propina entre 2010 e 2016: R$ 40 milhões, em três contas.

O conselheiro da Fetranspor é o único que ainda não foi preso na operação Ponto Final entre os que tiveram prisão decretada. Ele está em Portugal, e os advogados disseram que ele volta ao Rio no próximo sábado.

Edimar Dantas também entregou aos procuradores uma tabela com a relação das empresas de ônibus que participavam do esquema ilegal. Só em janeiro do ano passado, elas arrecadaram cerca de R$ 6,5 milhões. Quase R$ 1,2 milhão foram descontados para pagar o que os investigadores chamam de "despesas operacionais".

O RJTV apurou que essa era a verba mensal, necessária para manter a quadrilha funcionando, pagando seguranças, funcionários e taxas em geral. Os R$ 5,2 milhões que sobraram foram repassados para uma conta da quadrilha.

Os procuradores dizem ainda que o maior empresário de ônibus do Rio, Jacob Barata Filho, também usava suas empresas para abastecer o caixa dois da Fetranspor. Entre fevereiro de 2013 e maio de 2014, ele depositou mais de R$ 17 milhões nas contas da organização criminosa.

O dinheiro era misturado com as contribuições das outras empresas do setor. Mais tarde, parte desses recursos era redistribuída para os integrantes da quadrilha. Os investigadores dizem que Barata recebeu, de volta, pelo menos R$ 27 milhões. Dinheiro usado para irrigar as relações entre os donos do transporte coletivo do Rio com o poder concedente do transporte público.

O maior beneficiário do esquema foi o ex-governador Sérgio Cabral. Em seis anos, ele recebeu quase R$ 123 milhões dos empresários: cerca de R$ 56 mil por dia. O número equivale a 14 mil passagens de ônibus intermunicipal, a R$ 4. Ou 350 ônibus lotados rodando na cidade do Rio.

Os procuradores concluíram que Lavouras, Lélis Teixeira, o atual presidente da Fetranspor, e Jacob Barata Filho “controlam o setor de transportes do Rio, exercendo influência para além dos trâmites legais e legítimos, em negócios ilícitos, em prejuízo da população do Rio, maior usuária dos serviços de transportes de suas empresas”.

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